domingo, 5 de fevereiro de 2017

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Lamento dos Candangos ( cordel)


É  por conta dessa vida besta
Que passa no meu sertão
Rumo esperançoso para o Centro-oeste
Mas não quero que me chame de cabra-da-peste
Sou mais um  guerreiro cidadão
Só larguei o meu Nordeste
Por falta de opção.
      II
Falaram que na nova capital
De tudo vamos encontrar
Terá trabalho para todos nós
E a nossa vida vai melhorar.
Não quero saber de ostentação
Depois que ganhar um pouquinho de dinheiro
Volto correndo para o sertão.
              III
Eita vida amargurada,
Tive que deixar  para trás a secura,
Menino, mulher e toda a bicharada
Primeiro vou sozinho em busca da fartura
Vou trabalhar e  ficar rico na Esplanada
Na capital que será construída
Vou com certeza melhorar de vida.
               IV
O sonho de JK
Me  pegou desprevenido
Sem dinheiro, trabalho, morada
Larguei o sertão e vim para cá.
Achei que aqui teria conforto
Minhas mãos estão calejadas
Mas nada da construção posso desfrutar.
          V
Eu sou mais um nordestino peão
 Sonhador e esfomeado.
Pedreiro de profissão,
Dizem que chegaram a 80 mil
Noite e dia na construção
Cimento, tijolo, cal, sangue e suor
Para inaugurar Brasília em 21 de abril.
                  VI
Candangos  fomos batizados,
Forma discriminatória de identificação
 Um povo que ajudou com lágrimas
Construir essa nação.
Sem direito sobre o próprio destino,
Erguemos cada luxuosa construção.
 Sem espaço, expulsos os pobres  nordestinos...
                                   VII

Não somos candangos, mas guerreiros!
Tristes, trabalhadores  pioneiros,
Sedentos, famintos, massacrados...
Mas  na Praça dos Três Poderes
Graças à arte de Bruno Giorgi
 “Dois Guerreiros” com 8 metros de altura
Fomos finalmente homenageados ali.
                   VIII
Só  estou nesse lamento
Porque esse Brasil precisa mudar
Expedito e o Geldemar
 Soterrados na construção
E  só assim o povo  veio notar.
Brasília foi sonho dele...
Mas muitos  candangos morreram sem sonhar.

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 Estátua "Dois Guerreiros"muito conhecida como "Os Candangos".  Uma homenagem aos trabalhadores que morreram na construção de Brasília, em especial  os pedreiros  Expedito Xavier Gomes e  Geldemar Marques.