quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Oração de Natal


Senhor Jesus, parabéns!
És o aniversariante do dia
E que bom  Senhor, que tu estás presente em nossa ceia,
É maravilhoso contar contigo em nosso lar.
Melhor ainda é ter a certeza da Tua presença em nossa vida.
Ó Senhor, faça morada!
Faça morada no nosso coração.
Destrua todo e qualquer sentimento negativo  alimentado ao longo do ano.
Quebre todas as lanças do inimigo à espreita.
Cubra-nos com o teu manto sagrado
Para desfrutarmos da Tua proteção.
Marque-nos Senhor, com o teu sangue
Sangue que foi derramada numa cruz
Senhor, encha-nos com a tua bondade,
Repreenda as ações que não te agradas,

Ó Senhor!
Ensine-nos a respeitar uns aos outros,
Ensine-nos a amar verdadeiramente,
Como tu amas do jeito que somos,
Ensine-nos a te servir não apenas com palavras, mas  com ações.
Senhor Jesus,
Obrigada pelo pão de cada dia,
Pela família, amigos, irmãos
Pela vida, Senhor!
Pois é o nosso bem precioso
Se estamos aqui neste momento,
Ouvindo ou lendo essa oração
É porque Senhor,  estamos vivos para comemorar contigo
Mais este Natal!
Amém.

                    

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Uma nova história (mensagem)


Cada dia é um novo tempo,
Cada hora é única,
Por que desperdiçamos tanto a vida?
Por que adiamos fazer o bem?
Sempre deixamos a solidariedade, o amor, a paz... para uma única data: Natal!
Natal precisa ser mais de um dia. Não para o consumismo desenfreado,
Mas para dedicarmos algum tempo  à reflexão.
Será que estamos desaprendendo a amar?
Será que desaprendemos a ser solidários?
E o mais grave... perdemos a capacidade de indignar-se com as violências?
Quando pensamos nas ações praticadas durante o ano,
Orgulhamos ou envergonhamos?
Aplaudimos ou vaiamos?
Natal precisa ser todos os dias... Nascimento de Jesus Cristo!
Jesus precisa nascer diariamente em nossos corações,
E esse nascimento é fruto de uma gestação de amor, respeito, tolerância...
Vivemos numa sociedade intolerante, desrespeitosa,
Uma sociedade que precisa contar uma nova história
Uma nova história de amor fraternal...
Não apenas no dia do Natal, mas todos os dias.

                                        E. Amorim



quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Somos operários!

*

Quem  somos? Para onde vamos?
Assalariados sem nome,
Esperançosos  sem causa,
Irmãos sem abraço...
Aprendizes   na  profissão
Somos operários! Somos operários!


Construímos o nosso país
Somos cidadãos!
Indignados, Preocupados...
Com essa corda que tanto estica
E que sempre arrebenta
Em nossas  calejadas mãos.
Oh, meu Deus!
Quem inventou a corrupção?

Somos operários!
Altos juros e inflação
Fazem parte da nossa labuta
Mas a  grande força  bruta
Que constrói uma  nação
Traz o suor da  incansável luta
Operários! Operários!
Força,
Fé,

União!




*Tarsila do Amaral, Operários.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Pacto Autobiográfico* ( teoria em versos)

**

Vamos fazer um pacto, por favor?
Mas a verdade terá que predominar
PHILIPPE  LEJEUNE  há  anos lançou
Pacto Autobiográfico, este veio para ficar.
É uma aventura teórica falar de si
Ele prova que conhecimento é devir.


Lejeune  começa se desculpando
Pela audácia do jovem cidadão
Escrever sua tese apontando
Pactos autobiográficos! Que a França não conhecia não
O  livro de Rousseau , na pesquisa é o  seu objeto
 Confissões ,  no final  deu certo.


Em Pacto Autobiográfico o autor  ativista
 Revisa o primeiro pacto à francesa
Em “definição, história e problema” apontou a pista
Estudos do “gênero literário” entre dúvida e certeza.
Devido a recorrência de certo discurso ao leitor
Prefácio e preâmbulo tiveram  valor.


Lejeune passou a coletar
Linguagem, performance como promessa
Disse que nada teve que inventar
O pacto autobiográfico foi encontrado em cada peça
Foram aproximadamente 20 pactos encontrados
Um gênero literário que na França era ignorado.


Precisava batizar a descoberta
“Pacto”  a crítica jurídica  caiu de pau
“Aliança mística” era apenas uma fresta
O autor precisa da aliança sem igual
Leitor é livre para escolher sua leitura
Enquanto Lejeune faz a  releitura.


Na análise da sua escrita pioneira
Ele é um crítico ferrenho
Aponta  “falhas grosseiras”
Um “Cão de caça” com empenho
Captura  “erros e vergonha por desatenção”
Passa à limpo o novo pacto para corrigir a confusão.


“Narrativa não é ficção”
“ Vida em narrativa é simplesmente viver”
“Todos querem definição”
“O dicionário de Larousse traz para você”
“Pacto autobiográfico é uma  promessa”
Compromisso com a verdade e chega de conversa!


Enfim, para corrigir mais um equívoco  seu
 Pode-se encontrar “autobiografia”   também na  poesia”
“Narrativas de vida”,  “Escritas de si”, “Escritas do eu”
Ou espaço (auto) biográfico  não há consenso, o termo varia.
  História, Antropologia  e Psicologia
Reconhecem  e legitimam a  “autobiografia”.
                       
                                                ***


* Leitura básica dos ensaios de Phillippe Lejeune: Pacto autobiográfico, 25 anos depois e Autobiografia e Poesia. 


** Edvard Munch, O grito. ( imagem da web, apenas ilustrativa)

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Filha da noite


Gritos e soluços cortam o silêncio,
Rasgam a noite ao meio
Opressores e oprimidas.
Arranhões, mordidas  e açoites.
Resistência e dor
A voz protesta,
Um apelo mudo,
Surdo.
Murmuro,  sussurro,  em silêncio...
Grito.


Grito.
Ecoa entre as paredes nuas
Do quartinho da senzala.
Posse.
Gestação.
Violência.
Discriminação.
Sou filha da noite!
Dos desejos dos coronéis.
 Carne.


Carne.
Ó canibais! Saciaram a fome
Naquelas mulheres  sem nome
De uma servil escravidão.
Um passado que ficou lá trás.
Sou filha da noite!
Do capricho e vergonha
Do grito que cortou muitas madrugadas.
De coito e açoite.
Açoite.

Conquistei o meu lugar
Tenho grande valor
Quem rosa me traz
É o meu amor.
Com ele vou me deitar.
Se isso lhe apraz,
Dele sou.


Sou,
(Psiu! Não confunda!)
Muito mais que peito e...
bunda.


20 de novembro, Dia da Consciência Negra 

*Quadro de mulher africana, disponível na web.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

SEM VOCÊ...


A vida parecia vazia
A comida perdeu o sabor
Despede-se da fantasia
De muitas noites sem  o dia
O que é viver sem ter amor?

Sem você...
O que será de mim?
Vagando  sem  destino  ter
Como aquele  filme chato na tv
Deixei de ser  flor no seu jardim.

Ao tê-lo incompleto
É como vaso espatifado ao chão
Era um amor tão certo
Como todas as letras do alfabeto
Mas  machucou meu coração.

Um amor perdido ao vento
Restaram-me as lembranças daquela magia
 Invadindo meu pensamento
Como pode quebrar o juramento?
Transformou-se o  nosso amor em fantasia.

Minhas jóias perderam o valor
Sem você... meus olhos estavam aflitos
Precisavam sentir novo sabor
Pois a vida não é apenas dor
Sabe como acabei os conflitos?

Você era meu bem maior
Sem você... nem tudo perdeu a cor
Eu não chorei  tão só...
Quem perde, leva a pior
Encontrei  um novo amor.

                                                 Elisa
                                                                         beth 
                                                           Amorim



sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Tempo Passado* (teoria em versos)


Elisabeth Amorim

**

Beatriz Sarlo escreveu  com precisão
 “O passado é conflituoso”
A história e a memória
Às vezes na contramão
De um passado bem presente
Retratando cada visão.

Para o grande  Beneviste
Passado: construções
Ele escraviza ou liberta?
 Visões globais? Já que insiste...
O círculo fechado hermenêutico
Que unia a reconstituição dos fatos... abriste.

O princípio organizador
Esse tem grande influência
Sobre acontecimentos da história acadêmica.
Enquanto por muito tempo  se notou
Relatos das histórias das massas
Enquanto a história acadêmica ignorou.

A Guinada Subjetiva aconteceu
Finalmente os relatos foram reconhecidos
Narrativas orais, cartas, conselhos, orações...
Até o diário, um outro olhar recebeu
E novo sujeito na história
A autobiografia promoveu.



De olho no “ grupo da exclusão”
Cientistas sociais e historiadores
Queriam  um detalhe excepcional
Preocupados com a tal “legitimação”
Michel de Certeau  ao acompanhar operários de uma fábrica
Revelou as “tretas dos fracos” na arte  da invenção.

A história de vida cotidiana
Une-se com história da academia
Há uma renovação total
A história oral não se engana
O “eu” hoje é testemunho reconhecido
Capaz de levar  terroristas do Estado em “cana”.

O  recado já foi dado
Memória, SARLO disse:  "é campo conflituoso"
Lembrar ou esquecer os crimes nazistas?
Olhe criticamente para o passado
Ele nem sempre  é  libertador

O testemunho conserva a lembrança ou repara o machucado...
                                                

* Poema  a partir da leitura do ensaio de BEATRIZ SARLO,  Tempo Passado, retirado do livro  TEMPO PASSADO: CULTURA DA MEMÓRIA E GUINADA SUBJETIVA.  Editora Companhia das Letras, São Paulo. 

** Vítimas de Auschwitz 

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

O Narrador* (teoria em versos)

Elisabeth Amorim


Benjamin veio me avisar
O narrador está morrendo
Igual a Nikolai Leskov não há
O que estão escrevendo?
Narrativa clássica, onde você está?!
A narração está se perdendo.

Leskov  sim, é um grande narrador
Seus textos não precisam de explicação
Ele é sábio, mestre, magistral, conhecedor
Sinto a  sabedoria  em extinção
Se quiser presenciar um momento constrangedor
Mande um grupo relatar uma narração.

Narrador tem origem popular
Seja  o marinheiro comerciante ou o camponês sedentário
Tinha sempre algo bonito para contar
E cumpria com maestria o itinerário
E na roda de amigos  as aventuras narrar
As histórias com toque poético do imaginário...

A grande "arte de narrar"
Definhando, definhando, morrendo...
Leskov, Nodier, Hebel... venham nos salvar
Vejam como estamos vivendo,
Precisamos da narrativa preservar
Para termos histórias para contar.


 “Tudo está a serviço da informação”
O romance também é culpado
Pela morte da narração
O fato vivido não é mais comunicado
Que triste situação!
 Walter Benjamin deixou esse recado.




               * Texto desmontado do ensaio “O NARRADOR,  de Walter Benjamin. 
      DESMONTAR para divulgar, aproximar, informar, promover a leitura em outro gênero, e claro, preservar a autoria do texto original.



quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Atrás das cortinas


Atrás das cortinas
Atuam os mascarados
No grande palco da vida
Um espetáculo da ilusão
Dia e noite, noite e dia
As máscaras são ajustadas
Como parte da fantasia
Mas não as deixem fixadas
Jogue-as imediatamente no chão.


Atrás das cortinas
Em cena,  a  ópera do malandro...
Com  um destoado som
Onde vozes  delatoras se atropelam
E mudam o  verdeamarelo de tom
Ó, anjos dissimulados!
Atores sem juízo
 Expulsos serão do paraíso
Cairão por terra tuas máscaras
Restando-nos a conta do prejuízo.


                                              Eamorim 


*imagem  apenas ilustrativa

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Oração infantil

*

Querido Papai do Céu,
Hoje eu me comportei  muito bem
Não briguei  com nenhuma outra criança
Nem  xinguei ninguém.
Fui uma criança boazinha
Então Papai do Céu,
Será que posso te pedir um presente?
É um presente bem pequenininho...
É porque no Dia das Crianças toda criança quer  brinquedo
Mas eu não quero, não!
É verdade, Papai do Céu.
No lugar do brinquedo, queria...
Queria que o mundo pudesse dormir em paz.
Pronto, já disse.  Não falei que era um presente bem pequeno?
P A Z  só três letras...
É... de Paz que precisamos.
Não deixe os homens ficarem brigando uns com os outros,
Não deixe não, Papai do Céu.
Eu não sei por que as pessoas grandes gostam  de confusão
Proteja a minha família,
Proteja meus irmãozinhos,
Proteja todo mundo, Papai do Céu
Todo o mundo, tá  me ouvindo?
Agora vou dormir, certo?
Não se esqueça...
Todo mundo precisa de paz.
Paz.
Amém.




*imagem da web

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Sou ponte (poesia)


Uno dois extremos
Mostro mais uma opção de travessia
Tenho bases firmes
Sei para onde vou
Não adianta construir muros
Nem espalhar a cerca elétrica
Arames com farpas para que ninguém encoste
Ainda com as precauções
Alguma brecha restará
E por ela penetrarei
Porque sou ponte.
E como ponte
Apresento-lhe o outro lado
Outras pontes sendo construídas
Por sonhadores como eu
Que desistiram dos choques contra os paredões
Criamos as nossas pontes.
Amizade 
Literatura on line..
Você também pode ser ponte
Ou muro.




domingo, 27 de setembro de 2015

Sem correntes (soneto)


Quando fui açoitada por prazer
Tu zombaste da minha dor
Negaste-me o direito de refazer
A minha vida que se despedaçou.



Primeiro insistiu em me mutilar
Quando o patrão se encantou por mim.
Para ele não ter o que apreciar
Em uma negra com cheiro de jasmim.


Quantas vezes me acorrentou despida?
Na doce ilusão de se vingar
Nem percebeu a   corrente rompida...


Meu espírito livre voou até o céu
Lá meu anjo sem preconceito de cor
Carrega-me no colo com amor.


                                                     Elisabeth Amorim

* Fabiano Rocha, Essência negra 2 -  

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

No caminho das flores (mensagem)


Há quem goste de trilhar pelos caminhos das pedras, é uma opção. Gosto alheio não se deve questionar a não ser que ele  interfira na rotina de outros. Outras pessoas buscam a suavidade das flores, sentir o perfume, e tirar delas as mais belas poesias. Flores são incrivelmente poéticas.
Flores tem vida. E a estação da Primavera é considerada a mais bonita, justamente por causa das flores. Elas encantam a todos, sejam brancas, amarelas, azuis, rosas... Flores vivem a nos surpreender. Convidando-nos a olhar para os campos, jardins onde elas brilham, dançam, cantam e brindam a brevidade da existência. Quanto tempo dura a vida de uma linda flor?
Não sei, talvez porque no caminho não tenha tantas flores. Será? Há muitas flores no  caminho, mais do que você possa imaginar.  O problema não está nas flores, mas no nosso olhar e  caminhar. Somos traídos e atraídos pelas pedras também.  E por mais duro que possa ser, lembramos mais dos tropeços do que das alegrias. Como somos egoístas! Temos mil coisas para festejarmos, mas alimentamos o que nos angustia. Mude! Comece a enxergar e valorizar cada flor do caminho.  Rosa, cravo, margarida, lírio, girassol... cada qual com a sua beleza peculiar.

É muito gratificante olhar para trás e perceber as flores que deixamos para alguém e as recebidas também.  Quantas ainda deixaremos para os amantes da natureza literária? Porque o caminho da vida é permeado de opções, caminhar entre as flores ou entre as pedras. Jogar pedras em vidraças alheias ou  recolhê-las  deixando uma flor no lugar. Deveríamos optar pela segunda alternativa, é uma chance de nos tornarmos melhores do que já somos.  Decisão inteligente e prazerosa. Fazer o bem, desejar a paz, respeitar as diferenças são caminhos que fazem brotar flores...
E a primavera nasce aqui, dentro de cada um, basta mais que um toque poético, uma atitude, uma vida poética... Mas uma vida de paz. Cada coração pulsa para alegria das flores ou das pedras. Cada pessoa poderá ser mais uma a escrever sobre a paz e deixar mais uma flor no caminho do outro, talvez, dentro das nossas limitações fronteiriças, é o mínimo que fazemos. Quem sabe um dia a humanidade  aprenderá a respeitar as diferenças?  Assim, teremos um mundo saudável e colorido para se viver. Se esse texto chegou até você, comemore, há pessoas que ainda hoje com toda a tecnologia avançada não tem esse mesmo direito.

Para que possamos cada vez mais fazer do nosso dia, nossa vida, nosso caminho o melhor e o mais saudável para o entorno.  Quem sabe numa das voltas da terra as flores deixadas aqui, neste cantinho, servirão para alegrar corações feridos pelas guerras civis? Pessoas que não fazem distinção entre as estações do ano. Como apreciar os lírios dos campos... minados?
Então amigo(a), se você está confortavelmente lendo este texto, reflita! A primavera chegou até você, aprecie hoje cada flor em seu caminho, porque o amanhã é um futuro que não te pertence. Mas esse momento é todo seu, faça-o melhor que ontem, e seja cada dia mais feliz.

                                                             Elisabeth Amorim


*imagens disponíveis na web.


sábado, 19 de setembro de 2015

Negra, sim!


Já fui sua escrava, sim senhor.
Hoje quero ser mais livre
Ainda me prendem pela minha cor.
Infelizmente, meu irmão
Sempre há pedra no caminho
Onde está o cadeado dessa corrente?
Ultrapasso obstáculos com jeitinho
Para driblar a dor
Do preconceito e da discriminação,


Sou negra, sim!
Se quiser, pode sorrir,
E até zombar de mim...

Eu faço o meu caminhar
Com garra e carinho.
Se o meu cabelo me incomodar
Quando eu quiser
Posso muito bem o alisar
E andarei como você
Com ele bem lisinho
Correndo das tempestades
Para o penteado não se desfazer...

Sou negra, sim!
Se quiser, pode sorrir,
E até zombar de mim...

Na hora que  eu desejar
Deixo meus cabelos ao natural
Mesmo que aos seus olhos preconceituosos
Minha aparência está anormal
Faço o bonde andar.
Finjo que não vejo
O seu dedo a me apontar
Com olhos arregalados
Querendo-me como um produto importado
Para numa vitrine apresentar.

Sou negra, sim!
Se quiser, pode sorrir
E até zombar de mim...

Quando deixei a senzala
Sabia que não seria fácil
Embrenhei nas cozinhas alheias
Comi o pão que o diabo amassou.
Mas minha voz não se cala
E nem meu sorriso cessou
 Negrinha para você eu fui
Negra,
Hoje sou.


Apresentava os meus  dentes brancos
A cada amanhecer nublado...
Recolhendo o meu pranto
Para mais tarde sorrir.
E dos quartinhos do fundo, 
Canto
Encanto.
E como a colorida mandala
Minha vida se pintou.
 Negra, sim!
 Senhor?! 
Que faz aqui?


De cota em cota
Aprendi também o  bê a bá
Se é o diploma que vale
Posso também ser “doutô”.
E quem sabe um dia
Você poderá notar
A inteligente mulher que sou!

Negra, sim!
Negra sou.
Se quiser, pode zombar de mim...
Ou aceitar-me sem temor.


Já provei o meu valor
Não acredita que posso ir além?
Ainda vive preso a sua escravidão
Correntes que não são do bem.
Não me olhe como coitadinha
Nem “bonequinha” do vovô
Sou apenas uma mulher
Negra, sim!
Negra, sim, senhor!
Que insiste em dizer não...
Para o machismo dissimulador
E algumas formas de dominação.



·         Imagens  do acervo de MUHA BAZILA, Projeto Odara. (ARTISTA DA BAHIA)