sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Pacto Autobiográfico* ( teoria em versos)

**

Vamos fazer um pacto, por favor?
Mas a verdade terá que predominar
PHILIPPE  LEJEUNE  há  anos lançou
Pacto Autobiográfico, este veio para ficar.
É uma aventura teórica falar de si
Ele prova que conhecimento é devir.


Lejeune  começa se desculpando
Pela audácia do jovem cidadão
Escrever sua tese apontando
Pactos autobiográficos! Que a França não conhecia não
O  livro de Rousseau , na pesquisa é o  seu objeto
 Confissões ,  no final  deu certo.


Em Pacto Autobiográfico o autor  ativista
 Revisa o primeiro pacto à francesa
Em “definição, história e problema” apontou a pista
Estudos do “gênero literário” entre dúvida e certeza.
Devido a recorrência de certo discurso ao leitor
Prefácio e preâmbulo tiveram  valor.


Lejeune passou a coletar
Linguagem, performance como promessa
Disse que nada teve que inventar
O pacto autobiográfico foi encontrado em cada peça
Foram aproximadamente 20 pactos encontrados
Um gênero literário que na França era ignorado.


Precisava batizar a descoberta
“Pacto”  a crítica jurídica  caiu de pau
“Aliança mística” era apenas uma fresta
O autor precisa da aliança sem igual
Leitor é livre para escolher sua leitura
Enquanto Lejeune faz a  releitura.


Na análise da sua escrita pioneira
Ele é um crítico ferrenho
Aponta  “falhas grosseiras”
Um “Cão de caça” com empenho
Captura  “erros e vergonha por desatenção”
Passa à limpo o novo pacto para corrigir a confusão.


“Narrativa não é ficção”
“ Vida em narrativa é simplesmente viver”
“Todos querem definição”
“O dicionário de Larousse traz para você”
“Pacto autobiográfico é uma  promessa”
Compromisso com a verdade e chega de conversa!


Enfim, para corrigir mais um equívoco  seu
 Pode-se encontrar “autobiografia”   também na  poesia”
“Narrativas de vida”,  “Escritas de si”, “Escritas do eu”
Ou espaço (auto) biográfico  não há consenso, o termo varia.
  História, Antropologia  e Psicologia
Reconhecem  e legitimam a  “autobiografia”.
                       
                                                ***


* Leitura básica dos ensaios de Phillippe Lejeune: Pacto autobiográfico, 25 anos depois e Autobiografia e Poesia. 


** Edvard Munch, O grito. ( imagem da web, apenas ilustrativa)

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Filha da noite


Gritos e soluços cortam o silêncio,
Rasgam a noite ao meio
Opressores e oprimidas.
Arranhões, mordidas  e açoites.
Resistência e dor
A voz protesta,
Um apelo mudo,
Surdo.
Murmuro,  sussurro,  em silêncio...
Grito.


Grito.
Ecoa entre as paredes nuas
Do quartinho da senzala.
Posse.
Gestação.
Violência.
Discriminação.
Sou filha da noite!
Dos desejos dos coronéis.
 Carne.


Carne.
Ó canibais! Saciaram a fome
Naquelas mulheres  sem nome
De uma servil escravidão.
Um passado que ficou lá trás.
Sou filha da noite!
Do capricho e vergonha
Do grito que cortou muitas madrugadas.
De coito e açoite.
Açoite.

Conquistei o meu lugar
Tenho grande valor
Quem rosa me traz
É o meu amor.
Com ele vou me deitar.
Se isso lhe apraz,
Dele sou.


Sou,
(Psiu! Não confunda!)
Muito mais que peito e...
bunda.


20 de novembro, Dia da Consciência Negra 

*Quadro de mulher africana, disponível na web.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

SEM VOCÊ...


A vida parecia vazia
A comida perdeu o sabor
Despede-se da fantasia
De muitas noites sem  o dia
O que é viver sem ter amor?

Sem você...
O que será de mim?
Vagando  sem  destino  ter
Como aquele  filme chato na tv
Deixei de ser  flor no seu jardim.

Ao tê-lo incompleto
É como vaso espatifado ao chão
Era um amor tão certo
Como todas as letras do alfabeto
Mas  machucou meu coração.

Um amor perdido ao vento
Restaram-me as lembranças daquela magia
 Invadindo meu pensamento
Como pode quebrar o juramento?
Transformou-se o  nosso amor em fantasia.

Minhas jóias perderam o valor
Sem você... meus olhos estavam aflitos
Precisavam sentir novo sabor
Pois a vida não é apenas dor
Sabe como acabei os conflitos?

Você era meu bem maior
Sem você... nem tudo perdeu a cor
Eu não chorei  tão só...
Quem perde, leva a pior
Encontrei  um novo amor.

                                                 Elisa
                                                                         beth 
                                                           Amorim



sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Tempo Passado* (teoria em versos)


Elisabeth Amorim

**

Beatriz Sarlo escreveu  com precisão
 “O passado é conflituoso”
A história e a memória
Às vezes na contramão
De um passado bem presente
Retratando cada visão.

Para o grande  Beneviste
Passado: construções
Ele escraviza ou liberta?
 Visões globais? Já que insiste...
O círculo fechado hermenêutico
Que unia a reconstituição dos fatos... abriste.

O princípio organizador
Esse tem grande influência
Sobre acontecimentos da história acadêmica.
Enquanto por muito tempo  se notou
Relatos das histórias das massas
Enquanto a história acadêmica ignorou.

A Guinada Subjetiva aconteceu
Finalmente os relatos foram reconhecidos
Narrativas orais, cartas, conselhos, orações...
Até o diário, um outro olhar recebeu
E novo sujeito na história
A autobiografia promoveu.



De olho no “ grupo da exclusão”
Cientistas sociais e historiadores
Queriam  um detalhe excepcional
Preocupados com a tal “legitimação”
Michel de Certeau  ao acompanhar operários de uma fábrica
Revelou as “tretas dos fracos” na arte  da invenção.

A história de vida cotidiana
Une-se com história da academia
Há uma renovação total
A história oral não se engana
O “eu” hoje é testemunho reconhecido
Capaz de levar  terroristas do Estado em “cana”.

O  recado já foi dado
Memória, SARLO disse:  "é campo conflituoso"
Lembrar ou esquecer os crimes nazistas?
Olhe criticamente para o passado
Ele nem sempre  é  libertador

O testemunho conserva a lembrança ou repara o machucado...
                                                

* Poema  a partir da leitura do ensaio de BEATRIZ SARLO,  Tempo Passado, retirado do livro  TEMPO PASSADO: CULTURA DA MEMÓRIA E GUINADA SUBJETIVA.  Editora Companhia das Letras, São Paulo. 

** Vítimas de Auschwitz