quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Sou ponte (poesia)


Uno dois extremos
Mostro mais uma opção de travessia
Tenho bases firmes
Sei para onde vou
Não adianta construir muros
Nem espalhar a cerca elétrica
Arames com farpas para que ninguém encoste
Ainda com as precauções
Alguma brecha restará
E por ela penetrarei
Porque sou ponte.
E como ponte
Apresento-lhe o outro lado
Outras pontes sendo construídas
Por sonhadores como eu
Que desistiram dos choques contra os paredões
Criamos as nossas pontes.
Amizade 
Literatura on line..
Você também pode ser ponte
Ou muro.




domingo, 27 de setembro de 2015

Sem correntes (soneto)


Quando fui açoitada por prazer
Tu zombaste da minha dor
Negaste-me o direito de refazer
A minha vida que se despedaçou.



Primeiro insistiu em me mutilar
Quando o patrão se encantou por mim.
Para ele não ter o que apreciar
Em uma negra com cheiro de jasmim.


Quantas vezes me acorrentou despida?
Na doce ilusão de se vingar
Nem percebeu a   corrente rompida...


Meu espírito livre voou até o céu
Lá meu anjo sem preconceito de cor
Carrega-me no colo com amor.


                                                     Elisabeth Amorim

* Fabiano Rocha, Essência negra 2 -  

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

No caminho das flores (mensagem)


Há quem goste de trilhar pelos caminhos das pedras, é uma opção. Gosto alheio não se deve questionar a não ser que ele  interfira na rotina de outros. Outras pessoas buscam a suavidade das flores, sentir o perfume, e tirar delas as mais belas poesias. Flores são incrivelmente poéticas.
Flores tem vida. E a estação da Primavera é considerada a mais bonita, justamente por causa das flores. Elas encantam a todos, sejam brancas, amarelas, azuis, rosas... Flores vivem a nos surpreender. Convidando-nos a olhar para os campos, jardins onde elas brilham, dançam, cantam e brindam a brevidade da existência. Quanto tempo dura a vida de uma linda flor?
Não sei, talvez porque no caminho não tenha tantas flores. Será? Há muitas flores no  caminho, mais do que você possa imaginar.  O problema não está nas flores, mas no nosso olhar e  caminhar. Somos traídos e atraídos pelas pedras também.  E por mais duro que possa ser, lembramos mais dos tropeços do que das alegrias. Como somos egoístas! Temos mil coisas para festejarmos, mas alimentamos o que nos angustia. Mude! Comece a enxergar e valorizar cada flor do caminho.  Rosa, cravo, margarida, lírio, girassol... cada qual com a sua beleza peculiar.

É muito gratificante olhar para trás e perceber as flores que deixamos para alguém e as recebidas também.  Quantas ainda deixaremos para os amantes da natureza literária? Porque o caminho da vida é permeado de opções, caminhar entre as flores ou entre as pedras. Jogar pedras em vidraças alheias ou  recolhê-las  deixando uma flor no lugar. Deveríamos optar pela segunda alternativa, é uma chance de nos tornarmos melhores do que já somos.  Decisão inteligente e prazerosa. Fazer o bem, desejar a paz, respeitar as diferenças são caminhos que fazem brotar flores...
E a primavera nasce aqui, dentro de cada um, basta mais que um toque poético, uma atitude, uma vida poética... Mas uma vida de paz. Cada coração pulsa para alegria das flores ou das pedras. Cada pessoa poderá ser mais uma a escrever sobre a paz e deixar mais uma flor no caminho do outro, talvez, dentro das nossas limitações fronteiriças, é o mínimo que fazemos. Quem sabe um dia a humanidade  aprenderá a respeitar as diferenças?  Assim, teremos um mundo saudável e colorido para se viver. Se esse texto chegou até você, comemore, há pessoas que ainda hoje com toda a tecnologia avançada não tem esse mesmo direito.

Para que possamos cada vez mais fazer do nosso dia, nossa vida, nosso caminho o melhor e o mais saudável para o entorno.  Quem sabe numa das voltas da terra as flores deixadas aqui, neste cantinho, servirão para alegrar corações feridos pelas guerras civis? Pessoas que não fazem distinção entre as estações do ano. Como apreciar os lírios dos campos... minados?
Então amigo(a), se você está confortavelmente lendo este texto, reflita! A primavera chegou até você, aprecie hoje cada flor em seu caminho, porque o amanhã é um futuro que não te pertence. Mas esse momento é todo seu, faça-o melhor que ontem, e seja cada dia mais feliz.

                                                             Elisabeth Amorim


*imagens disponíveis na web.


sábado, 19 de setembro de 2015

Negra, sim!


Já fui sua escrava, sim senhor.
Hoje quero ser mais livre
Ainda me prendem pela minha cor.
Infelizmente, meu irmão
Sempre há pedra no caminho
Onde está o cadeado dessa corrente?
Ultrapasso obstáculos com jeitinho
Para driblar a dor
Do preconceito e da discriminação,


Sou negra, sim!
Se quiser, pode sorrir,
E até zombar de mim...

Eu faço o meu caminhar
Com garra e carinho.
Se o meu cabelo me incomodar
Quando eu quiser
Posso muito bem o alisar
E andarei como você
Com ele bem lisinho
Correndo das tempestades
Para o penteado não se desfazer...

Sou negra, sim!
Se quiser, pode sorrir,
E até zombar de mim...

Na hora que  eu desejar
Deixo meus cabelos ao natural
Mesmo que aos seus olhos preconceituosos
Minha aparência está anormal
Faço o bonde andar.
Finjo que não vejo
O seu dedo a me apontar
Com olhos arregalados
Querendo-me como um produto importado
Para numa vitrine apresentar.

Sou negra, sim!
Se quiser, pode sorrir
E até zombar de mim...

Quando deixei a senzala
Sabia que não seria fácil
Embrenhei nas cozinhas alheias
Comi o pão que o diabo amassou.
Mas minha voz não se cala
E nem meu sorriso cessou
 Negrinha para você eu fui
Negra,
Hoje sou.


Apresentava os meus  dentes brancos
A cada amanhecer nublado...
Recolhendo o meu pranto
Para mais tarde sorrir.
E dos quartinhos do fundo, 
Canto
Encanto.
E como a colorida mandala
Minha vida se pintou.
 Negra, sim!
 Senhor?! 
Que faz aqui?


De cota em cota
Aprendi também o  bê a bá
Se é o diploma que vale
Posso também ser “doutô”.
E quem sabe um dia
Você poderá notar
A inteligente mulher que sou!

Negra, sim!
Negra sou.
Se quiser, pode zombar de mim...
Ou aceitar-me sem temor.


Já provei o meu valor
Não acredita que posso ir além?
Ainda vive preso a sua escravidão
Correntes que não são do bem.
Não me olhe como coitadinha
Nem “bonequinha” do vovô
Sou apenas uma mulher
Negra, sim!
Negra, sim, senhor!
Que insiste em dizer não...
Para o machismo dissimulador
E algumas formas de dominação.



·         Imagens  do acervo de MUHA BAZILA, Projeto Odara. (ARTISTA DA BAHIA)







quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Tua flor


Que queres de Deus?
Ele te mostrou a Luz
Dando-te o filho primogênito, Jesus.
Para que sigas os passos seus.

Que queres do universo?
Ele  te deu toda a natureza
Um cenário de ímpar beleza
Para que andes no caminho certo.

Que queres do seu país?
Ele te fez cidadão.
Tu pertences a esta nação
Pratiques a cidadania e sejas feliz!

Que queres do seu estado?
Ele te deu uma identidade
Reconhecendo-te com dignidade
Este é o teu legado.

Que queres da sua cidade?
Tu és mais um morador
Poderás ser também colaborador
Para isso não tem idade.

Que queres desse jardim?
Sou apenas uma flor
Que desistiu de ser espinho
E nasço na primavera, assim...

- Ó minha linda flor!
Está escrito no firmamento
As flores nascem para o encantamento
Das pessoas que descobriram o amor.


                             E. Amorim


                        Viva a Primavera! Sem amor, as flores murcharão...

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Memorial ( homenagem)


Ninguém apaga a dor da perda
14 anos depois...
Restaram cinzas de um passado
Envolto numa nuvem de fumaça que ainda hoje,
Agride os nossos olhos
Arregalados,
Incrédulos,
Assustados,
Temerosos.
O mundo clama pela paz
“We are the world”
E queremos guardar no nosso memorial
As boas lembranças que o bem proporciona.


E. Amorim


Ps: Aos norte-americanos que nos acompanham discretamente... Thank you and come again!

I N S E N S A T E Z ( soneto)

*

Sem domínio da razão
Faz loucuras de amor
Entre as brigas e paixão
Um coração chora de dor.


Quanta estupidez!
Só xeque-mate para você.
Faz da vida xadrez
Quem joga pode perder.


Parto, não dá mais.
Sonhos frustrados, desilusão
Não olharei para trás.


Antes de sair mais  uma  vez...
Uma chance. Imploro, só mais uma chance.
Alimente a minha insensatez.

                                                                   AMORIM





*E. Pietro, pintura a óleo em tela.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Sob medida ( mensagem)

      

Às vezes buscamos frutos numa árvore infrutífera.  Às vezes buscamos sombra no deserto. Porque acreditamos que há no universo um Deus que rege as coisas e Ele é capaz de transformar qualquer realidade, com apenas seu toque.
E o toque de Deus é capaz de operar milagres. Milagre  é acontecer o improvável aos olhos dos homens. Transformar não é fazer do deserto uma floresta nem muito menos fazer com que uma árvore que nunca deu um fruto seja carregada de frutos inesperadamente. Porque quando Deus quer que o “improvável” aconteça, Ele usa as pessoas. O fruto que você deseja chega até você. A sombra, o abrigo, o conforto almejados virão ao seu encontro. Como?  Repito: Deus usa as pessoas para falar, abrigar, confortar, alimentar.  Porque nem sempre a nossa fome é de pão nem a nossa sede é de vinho. A água pura que jorra de uma fonte límpida faz um bem tremendo em nossa vida.
Tudo há uma medida certa. Pessoas boas sofrem, pessoas más também sofrem. Na nossa mente deveria o mal ser para quem é mau, e o bem para quem é bom. Mas quando algo negativo acontece com uma pessoa boa, mesmo sem entendermos direito, Deus está no controle. Pois é nesse momento que a nossa fé é testada, colocada em prova. Porque todos nós morreremos um dia, e o que levaremos?
Por mais que agarramos os bens materiais: as casas, fazendas, joias e muito dinheiro, são bens passageiros. Poderemos sim, ter um funeral de alto luxo, mas não o levaremos também. Sem falar que o túmulo com grandes ostentações, chamará a atenção dos lapidadores, logo nem lá, o seu corpo terá sossego, pois será alvo de cobiça. Por mais coroas que ganhamos as flores perderão toda a beleza e murcharão, transformarão em lixo.  Mas, em toda a nossa estadia provisória neste mundo, independente da sua religião, do Deus ou Deuses que você acredita o que fará a diferença é a sua vida aqui. Como você viveu? Qual a história deixada para os seus? Que exemplo de vida você foi para alguém?

Deus faz tudo sob medida.  Se tivéssemos a vida eterna terrena, como seriam as relações entre pobres e ricos? Provavelmente, o determinismo tomaria conta de cada um, pois morreríamos sem o sonho de mudança.  E fico a pensar como seria bom se tivesse condições para poder publicar alguns textos que escrevo... E ao mesmo tempo, reflito: Será que se tivesse condições eu estaria lembrando de deixar uma palavra de esperança para os meus irmãos? Será que se fosse rica  pararia no meio de uma ação para agradecer a Deus por mais esse dia abençoado? Estamos vivos!
Deus nos dá o pão sob medida.  Se matarmos toda a nossa fome no café da manhã, esqueceríamos, talvez, de agradecer.  E hoje agradeço a Deus por tudo, tudo que tem feito por mim. Pelos milagres que Ele tem operado em minha vida. Milagres, sim. Pois diante de tantas doenças,  poluições, tantos convites atrativos  para permanecer no mundo, continuo firme na fé. E sei, que o Deus que acredito é capaz de mover montanhas. E como tu sabes, se as montanhas não se movem aos olhos humanos, Ele, Deus é capaz de fazer com que o seu condutor não atrase nem um minuto, poderá estar  pertinho do você, para juntos o milagre acontecer.  Pois Ele usa pessoas. E eu, você...  nós poderemos ser  “montanha”  se movendo para atender alguém.

                 Com carinho,
                                                  E. Amorim


segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Independência do Brasil




Em 1822 nesse querido Brasil
Próximo às margens do Ipiranga
Terra adorada, mãe gentil
Depois de muitas mortes e zanga
Decretou D. Pedro I
A Independência do Brasil.


A história faz a narração
Aqui, a literatura a história desmontou
A Coroa Portuguesa com toda a documentação
Descobriu esse lugar e se apaixonou
Por ouro, índias e pau-brasil
E o que restou?  Só a Independência do Brasil.


A independência atendia interesses opostos
D. Pedro I teria que decidir
Atender a coroa em outros postos
Ou realmente ficar aqui.
Dia do Fico surgiu...
Passos para a independência do Brasil.


Anterior veio o grande inconfidente
Joaquim José da Silva Xavier
Lutou para quebrar as correntes
Foi traído e acredite se quiser
O nosso Tiradentes foi enforcado em 21 de abril
Em nome da Independência do Brasil.


D. Pedro I com o famoso grito:
-Independência ou Morte!
O país ficou mais bonito
Poderia seguir o seu norte
E Portugal que aqui invadiu
Reconheceu a Independência do Brasil!


Somos livres, sim senhor!
Escolhemos a religião,
Vereador, prefeito, deputado, governador...
Vivemos uma democracia, somos cidadãos
Reclamamos porque nem Jesus Cristo  serviu
Na Independência do Brasil.


E neste país da democracia
Numa data especial
O povo vai às ruas com protestos e cia
Comemorar sem igual
Com suas armas e sem fuzil
Viver a Independência do Brasil.


Neste cantinho da Bahia
Onde pretende-se combater o preconceito
Seja o étnico e o social no dia a dia
Para uma educação sem igual
Onde pescador sem peixes no anzol grita infeliz:
“Onde estão os pescadores?” após a independência do Brasil!


E eu de cá, com saudosismo  de menina:
E as lavadeiras da nossa Iaçu?
E as águas tão cristalinas
do cansado rio Paraguaçu?
Ó terra amada, mãe gentil
7 de Setembro, Independência do Brasil.


Aqui o céu é mais azul...
Com a pena de  aprendiz
7 de Setembro em Iaçu
Você vê o povo na rua feliz
Dando o seu recado através da fantasia:
“Independência se conquista todo dia!”

                                





sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Minha independência

*

Quando acreditei na liberdade
Na quebra de corrente
No fim do colonialismo
E dei “viva” de verdade
Comecei a caminhar para frente
Sair do comodismo.

E a minha independência
Não foi Pedro nem João
Mas vem das mãos calejadas
De trabalhar com decência
Para garantir o pão
Para toda a filharada.

Confesso, já comi do pão
Que o diabo amassou
Já chorei rios de cachoeira
Como um pobre do sertão
Que até a farinha na mesa faltou...
Minha vida não era brincadeira.


Enquanto buscava a independência
Aquela que surgiu de um grito
Encontrava muita corrupção
Parecia que não havia decência
 Mas juro, eu acredito
Na mudança do cidadão.

Mesmo com esse salário minguado
Caminho de cabeça erguida
Labuto de sol a sol.
Vejo um mundo fragmentado
Precisamos encontrar uma saída
Ou faltará peixe em nosso anzol.

A minha independência?
Não a conquistei sozinho
Não veio no cavalo branco
É fruto de uma consciência
Das pedras recolhidas no caminho
E do alisar muito banco.

Hoje vivo a comemorar
Não esperei fim da corrupção
Nem gigante notar formiga
Minha independência? Tive que agarrar.
Foi a minha salvação.
E agradeço tanta mão amiga...
                                                                     E. Amorim



* Antonio Porteiro( imagem disponível na web)